Crônica cultural e memórias assinadas por um gaúcho, do Vale dos Sinos para o Mundo.
sábado, agosto 05, 2006
Quando o presidente caiu do trem
Encerradas as operações bélicas da guerra mundial (1914-1918), a Alemanha, esgotada de recursos, solicitou um armistício que foi uma verdadeira rendição. O tratado de Versailes colocou fim ao conflito. Os alemães o consideraram um Diktat, uma condenação. Escrevendo sobre os líderes europeus em 1914, J. Pijoan diz:- “Os diplomatas e ministros europeus se movimentavam como galos sem cabeça. Na realidade nunca haviam tido cabeça, e muito menos coração. Se entre as cabeças coroadas houvesse ao menos um monarca, e entre os políticos um verdadeiro homem de Estado, a guerra poderia ter sido evitada.” Após a guerra, a própria França dava um mau exemplo: A união de ministros e políticos do “baixo clero” da Assembléia Nacional,em janeiro de 1920, elegia presidente, um desconhecido político, Paul Deschanel. Isso ocorreu em detrimento do grande líder Clemanceau, o Iigre, o qual com Lloyd George, o Raposa, autores dos tratatos que deram fim à guerra. Na madrugada de 24 de maio de 1920, um ferroviário, na linha Paris-Marselha, perto de Montargis, a 113 quilometros de Paris, encontrou um indivíduo vestindo pijama, descalço, arranhado e machucado. O homem aproximou-se e disse: “O senhor não vai acreditar! Sei que isso pode parecer absurdo, eu sou o presidente da França”! O homem disse que havia caído do trem presidencial e pediu que o ajudasse a contatar a autoridade mais próxima. O ferroviário levou-o até um posto de guarda da ferrovia. Lá, tanto o guarda Dariot como sua mulher, ficaram estupefatos com a presença do desconhecido que dizia chamar-se Paul Deschanel, presidente da França.William Wiser, no seu Os Anos Loucos, relata a conversa: - “Madame”, entoou o visitante. Estou vendo que seu marido não acredita que eu seja o presidente. A senhora já viu algum retrato?”. A mulher reparara na aparência do cavalheiro.O pijama era de qualidade impecável; seus pés – a não ser pelos vestígios de cinza do leito da via férrea – estavam limpos e eram cor-de-rosa, com as unhas bem feitas. Se fosse maluco, era um maluco fino. –“Já vi sim,” respondeu a boa senhora, “e tenho um retrato dele aqui na lareira”. Era uma foto do presidente. O homem tinha o mesmo bigode branco e o olhar esgazeado de Paul Deschanel, mas com toda a honestidade ela foi obrigada a acrescentar: - “Sinto muito, mas o senhor não se parece muito com ele.” – “Bem é verdade que eu estou de pijama, mas isso não me impede de ser o presidente da França.”- Enquanto o marido buscava o médico e o sub-prefeito, a senhora colocou o visitante na cama, mesmo desarrumada, como se fosse uma criança lavou-lhe o rosto, as mãos, os pés e cotovelos.O médico, acompanhado de um policial, examinou-o e pelo seu estado, parecia mesmo que havia caído de um trem. Sem taxis na cidade e os raros telefones com defeito, foi passado um telegrama pedindo informações sobre um trem presidencial. Foi confirmada passagem do trem e a ordem do presidente para não ser perturbado até às 8 horas da manhã. Veio a confirmação que o presidente não estava em sua cabine no trem. De Paris, à tarde, chegavam ao local, a mulher do presidente, a equipe presidencial e o líder da Assembléia Nacional. Queixando-se de um lapso de memória, o presidente francês, foi levado em caravana de vários automóveis. Vestia um traje emprestado e os chinelos do guarda trilhos da ferrovia. A versão oficial foi de que o presidente, abrindo a mal projetada janela da cabine para tomar um ar fresco, debruçando-se demais caíra ao lado dos trilhos. A imprensa não perdoou e passou a relatar outros fatos bizarros como deixar uma reunião de trabalho e adentrar um lago. Seu criado salvou-o de morrer afogado.
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