quarta-feira, dezembro 09, 2009

PRESERVANDO A CASA ADAMS

A casa localizada à Rua Silveira Martins n° 780, esquina com a Rua Julio de Castilhos, no Bairro Centro, chama a atenção das pessoas que por ela passam, por sua beleza arquitetônica,embora atualmente encontra-se em estado lamentável: problemas no telhado e pichações em suas portas e paredes externas.

É uma construção em alvenaria de tijolos salpicados, em sua cobertura possui manzardas, telhas canal, telhas francesas (as que são em número maior) e telhas de zinco. Possui uma cúpula externa na fachada lateral. Na fachada principal possui elementos em alto relevo com formas geométricas, óculo com vitral colorido e cachorro de madeira no beiral. Paredes internas, pisos e forro são confeccionados em madeira, do mesmo modo as portas e janelas internas e externas. O piso geral é de madeira com exceção do banho e cozinha que são de ladrilhos e as paredes de alvenaria. Há um espaço lateral externo com frente para a Rua Júlio de Castilhos, que serviu como um jardim com duas grandes árvores que prejudicam o prédio, principalmente alicerces e o telhado. Poda ou remoção das mesmas deveriam ser providenciadas para salvaguarda da casa.

Pode-se dizer que o estado atual da casa é regular, exigindo uma restauração o mais urgente possível, pois sua deterioração está a caminho.

De acordo com a assessoria dos proprietários atuais, existe o interesse em restaurá-la e conservá-la, assim que tiveram a autorização da Prefeitura Municipal para as devidas obras de restauração, e demais obras.

A Casa Adams possui 188m² de área construída, encontra-se na extremidade nordeste de um terreno de 5.166 m² de área, que também abriga o que resta da antiga fábrica de Calçados Adams. A empresa passou ao controle do Banco do Brasil em meados dos anos 70, sendo a seguir adquirida por uma das empresas do Grupo Franciscano.


Essa casa, cuja data de construção é da primeira metade do século passado, foi residência da Família Pedro Adams Filho por três gerações.

A importância de sua preservação, restauração e conservação, pode ser comprovada através dos meios de comunicação, principalmente o Jornal N.H.(exemplo: edição de 17 de outubro de 2000, página 4). Crônicas e fotos do Fotógrafo e Jornalista Alceu Mário Feijó e outros cronistas.

O escritor hamburguense Paulo Henrique Kern, escreveu, e Ariadne Decker ilustrou, um interessante livro “ Ruas e Praças de Novo Hamburgo- Quem é Quem”. Em sua 2ª edição, de 2002, Novo Hamburgo, RS, edição do autor. Nele está registrada a importância de Pedro Adams Filho, dando nome à Avenida Pedro Adams Filho,que cruza a zona Central da cidade,de norte, do Bairro Operário, do Guarani, Vila Rosa, passando pelo Centro e seguindo ao sul na direção de Pátria Nova, Ouro Branco-Pátria Nova, novamente Ouro Branco, Rondônia e Industrial, Santo Afonso e Industrial novamente.

Para Paulo Henrique Kern “PEDRO ADAMS FILHO (1870-1935), o pioneiro da indústria calçadista do Vale do Rio dos Sinos, nasceu no município de Lajeado, iniciou as atividades profissionais aos dezoito anos de idade, quando ele e seu pai se estabeleceram com sapataria e selaria em Dois Irmãos. Naquela época,começou a confeccionar chinelos. Mudou-se para Novo Hamburgo em 1898. Utilizando maquinaria importada da Alemanha, instalou a primeira fábrica de calçados da Cidade. Essa empresa teve extraordinária importância, pois serviu de escola a muitos sapateiros que depois fundaram outras indústrias. Adams foi também o primeiro a vender seus produtos no Estado de São Paulo. Participou ainda da criação de uma empresa geradora e distribuidora de eletricidade, denominada Energia Elétrica Hamburguesa Limitada. Atuando na política, fez parte do Conselho Municipal de São Leopoldo ( correspondente à atual Câmara Municipal de Vereadores), desde 1917 até a emancipação de Novo Hamburgo,em 5 de abril de 1927. Teve participação ativa na campanha emancipacionista. Foi presidente da Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo no período de 1910 a 1911.”

Pela Lei Municipal 47, de 1964, a avenida foi oficializada como via pública principal de Novo Hamburgo.

A Profª Ms. Claudia Schemes et allii, também registra de forma enfática, a importância de Pedro Adams Filho, no livro do qual é co-autora “Memória do Setor Coureiro-Calçadista: Pioneiros e Empreendedores do Vale do Rio dos Sinos”, editora da Feevale, 2005, Novo Hamburgo, RS, Brasil.

No capítulo “Empresários e Trabalhadores”, à pagina 17, os autores citam :

“Um dos marcos do crescimento da atividade calçadista em Novo Hamburgo foi a criação da primeira fábrica de calçados,em 1898, por Pedro Adams Filho, que já trabalhava desde os 18 anos com seu pai, também sapateiro, na confecção de chinelos.

Ele foi, portanto, o pioneiro da indústria calçadista de Novo Hamburgo e Vale dos Sinos. ...Esta primeira fábrica chamada Pedro Adams Filho & Cia. Ltda. Produziu itens diversificados, pois não havia especialização nem critérios na linha de produtos fabricados. O maquinário utilizado era da marca Moenus, importado da Alemanha, entretanto, durante a 1ª Guerra Mundial pressões econômicas e políticas o obrigaram a trocar estas máquinas por outras norte-americanas. Além disso, técnicos italianos e uruguaios foram contratados para melhorar o sistema de produção.

Pedro Adams tinha idéias bastante avançadas para a época.

A empresa que só fabricava calçados femininos e masculinos,em 1930, passou a concentrar as atividades na produção de sandálias masculinas. As botinas, que também eram fabricadas, eram vendidas por vendedores que utilizavam o cavalo ou a mula como meio de transporte para chegar ao interior do Estado.”

E mais adiante (página 18) “Este empresário, portanto, pode ser considerado uma das figuras mais importantes do complexo industrial do Vale dos Sinos, pois foi ele que financiou grande parte das indústrias de calçados e curtumes da região”.

Cabe dizer também, que a Empresa de Energia Elétrica, por ele criada, além de fornecer energia para a fábrica de calçados e o Curtume Hamburguez ( também criado por Pedro Adams Filho), era a fornecedora de energia para a cidade.

Os couros produzidos no Curtume de Adams Filho eram de tal qualidade que em 1917 passaram e ser exportados para a Suiça.

Da entrevista de Pedro Adams Neto (pág.19 a 26,op. cit.), extraímos alguns comentários bem interessantes:

- Meu primeiro trabalho foi no Curtume do Adams (Curtume Hamburguez), onde eu recebia os couros do matadouro Provenzano...Utilizando o método que aprendi com o Barreto,químico responsável do Curtume Hamburguez – a curtição de nonato deu certo.

...Com esse empreendimento, consegui formar capital para comprar uma participação no Adams S/A.

...A partir de então meu pai chamou-me para trabalhar na fábrica de sandálias do Adams, fazendo com que eu passasse por todas as máquinas e aprendesse todo o processo de fabricação.

...Depois fui ao Rio e São Paulo acompanhar a comercialização, trabalhando em depósitos de couros e calçados. Na volta, fui para a fábrica de calçados Adams, já como diretor.

De Ronaldo Romeu Meurer, um trabalhador entrevistado ( pág.53 a 59 ), extraímos algumas observações:

- Comecei a trabalhar com 14 anos de idade com carteira assinada...

-Na firma (Adams) passei por várias seções ( solaria, aviamento, corte, etc)...

- Dentro da firma eu me sentia muito bem. Tive propostas para trocar,mas eu me sentia bem dentro dessa firma, nunca fiz questão de mudar... foram 30 anos de serviço.

- A pedido dos patrões, depois de 30 dias aposentado, fui convidado a voltar, promovido a chefe de seção...

- Coisa boa acontecia diariamente porque tínhamos muitos amigos e os próprios patrões eram muito bons. Eu, mais dois irmãos e minha mãe trabalhávamos todos na mesma firma e os patrões deram-nos uma casa para morar, para pagarmos da maneira que podíamos pagar. Se pudesse pagar um mês estava bom; se não pudesse pagar num mês, não fazia mal. Isso é uma das coisas boas que tenho lembrança...

- O nome do patrão era Urbano Adams. Foi muito bom trabalhar ali, eles nos auxiliaram muito. O Adams fazia calçado de homem, um calçado de primeira classe...

No jornal NH de 17 de outubro de 2000 (pág.4), destacamos algumas considerações importantes do economista e Consultor da Associação de Curtumes do RS-AICSul, André Maurício dos Santos, a respeito do pioneiro Pedro Adams Filho:

-O impulso decisivo para o crescimento da emergente indústria calçadista aconteceu em 1888, com a criação da primeira fábrica de calçados propriamente dita: a Pedro Adams Filho & Cia. Ltda., de Pedro Adams Filho, proprietário de um curtume e fábrica de arreios. O Sr.Adams construiria,em 1901, um prédio de alvenaria na cidade, que mais tarde passaria por sucessivos aumentos...

- Pedro Adams se tornou agente do Banco da Província, cargo que lhe teria facilitado o acesso a empréstimos para sua fábrica...

Muito mais poderia ser dito a respeito de Pedro Adams Filho e sua trajetória extraordinária como pioneiro da indústria,empresário inovador, político, e líder social. Acima de tudo, um humanista exemplar para muitos outros donos de fábrica( como gostava de dizer o Professor Ernest Sarlet).

É mister inadiável a restauração da Casa Adams,e não só isso, sua preservação e manutenção como um Memorial para conhecimento dessa e das futuras gerações.

Esperamos que o entorno degradado possa também dar lugar a novos empreendimentos, incluímos aqui também a área da antiga Fábrica de Molduras P.Alles.

Todas essas áreas ociosas ( Adams, P.Alles, e arredores) voltem a ser revitalizadas, oferecendo novos espaços de negócios e empregos, os quais poderão trazer e atrair novos capitais e renda para os empresários, os trabalhadores e para o município através da arrecadação de impostos.

Uma área central do município, com antigos prédios industriais em petição de miséria, servindo apenas para abrigo de morcegos e atelier de pichadores, merece uma atenção melhor.

Projetos inovadores com aproveitamento adequado merecem o apoio e incentivo das autoridades e o aplauso da comunidade.