sábado, setembro 20, 2014

PELO CURDISTÃO BRAVIO

Das minhas leituras da juventude  Karl Friedrich May (foto) foi um dos escritores que mais me impressionou pela  vibrante e realística forma de descrever suas aventuras pelas regiões e países mais exóticos e distantes. Ele nasceu em 25.2.1842  na Saxônia e faleceu em 30.3.1912  na  Alemanha. Em seu país a popularidade de sua literatura oportunizou a venda de mais de 75 milhões de livros. Traduzido em mais de 100 países alcançou a venda de mais de 200 milhões de livros.



A instigante diversidade de sua obra literária deveu-se à sua grande curiosidade e a estudos de línguas orientais e dialetos de tribos indígenas americanas e de outros continentes. Os escritores James Fenimore Cooper e Julio Verne serviram de inspiração ao seu estilo fantástico e realista. Dentre os muitos títulos criados por Karl May,  destacamos alguns: A trilogia Winnetou,  Através do Deserto, No Oceano Pacífico, Percorrendo as Cordilheiras, Caravanas de Escravos, O Testamento do Inca, De  Bagdá a Istambul, e finalmente Pelo Curdistão Bravio.

O livro de aventuras de Karl May reavivou meu interesse para  a atual  população curda do norte do Iraque que é alvo das principais manchetes da mídia internacional. A ação dos radicais  do assim chamado Estado Islâmico tem como parte de suas vítimas os curdos.

A população curda é a etnia com o maior número de pessoas ( 40 milhões) sem um Estado autônomo. Encontra-se  espalhada em regiões do Irã, Iraque, Síria, Turquia, Armênia, Georgia e Azerbaijão. Nas últimas décadas foram também para Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália, Alemanha, Áustria, Suiça e França. Seu idioma é o curdo, língua indo-européia do ramo iraniano. Os curdos são geralmente bilíngues e poliglotas, falando línguas vizinhas, árabe, turco e persa. O aramaico, de origem semita, é falado pelos cristãos e judeus curdos.

A criação artificial de Estados pelas potências ocidentais reuniu tribos e culturas incompatíveis entre sí. Um exemplo dessa confusão é o Iraque onde as lideranças sunitas poderosas durante o governo de Sadan Hussein não aceitam o atual governo central dominado pelos xiitas.

Enquanto isso a população curda no norte, organizada e progressista é pressionada tradicionalmente pelo governo central. O representante da comunidade curda em Londres, respondendo a uma pergunta de um jornalista ocidental afirmava que o motivo de tanta perseguição era de “pura inveja"!

UMA ESCOLA DE ARTE

No mes de junho passado, um Decreto reconheceu a decisão do início deste ano da diretoria do Atelier Público Municipal que passou a chamar-se Escola Municipal de Artes Carlos Alberto de Oliveira.

É uma justa e oportuna homenagem ao pintor e desenhista "Carlão", assim apelidado por seus íntimos e conhecidos. Nascido em Novo Hamburgo e falecido aos 62 anos de idade em 2012, foi um exemplar funcionário público municipal servindo a Secretaria Municipal de Educação atendendo na maior parte de seu tempo crianças, jovens e adultos com carinho e paciência. Modesto e de poucas palavras, quando enfrentava uma sala de aula ou mesmo uma oficina de artes, tornava-se um comunicador nato, transmitindo com clareza e distinção seus ensinamentos.

Por mais de dez anos desenvolveu um projeto de arte nas Escolas municipais onde deixou em cada uma delas ao menos um exemplar de sua pintura ou desenho.
Como pintor e desenhista participou de inúmeros concursos e mostras de arte na cidade, no Estado e no País, sendo várias vezes premiado. Tem obras expostas em prédios públicos, escolas, museus e galerias de arte.

A arte de Carlos Alberto de Oliveira retrata o cotidiano das pessoas, das famílias, dos bairros, das cidades. A religiosidade da procissão, alegria dos jogos mais diversos. As fortes cores encantam e contagiam nossos sentimentos. "Carlão" soube reproduzir os embates dos grupos, das multidões, o casario antigo e as igrejas.

Sua arte pode ser chamada de "ARTE Näif", têrmo utilizado pela primeira vez para identificar a obra de Henri Rousseau pintor autodidacta. É arte ingênua( em francês), original, instintiva, arte popular nacional. Definiu-se como a corrente que aborda a arte de modo expontâneo, com toda liberdade estética. Seus seguidores a chamam " a arte livre de convenções". Não se enquadra na designação de Arte Popular, pois é diferente dela na medida que se trata de uma obra de criação individual que mostra peças artísticas únicas e originais.

De acordo com os artistas "NÄif" enquanto os acadêmicos pintam com o cérebro, os ingênuos(primitivos) pintam só com a alma. Essa é a essência da arte "NÄif", o estilo de quem já nasce com o dom de ser artista.

CULTURA PEDE SOCORRO

Fiquei preocupado com algumas notícias veiculadas na mídia: A Casa do Imigrante, situada no Bairro da Feitoria é símbolo da chegada dos primeiros imigrantes alemães no sul no Brasil. Seu rico acervo de móveis e utensílios corre o risco de ser danificado pelas goteiras do telhado. Por outro lado a Biblioteca Municipal Viana Moog, também em São Leopoldo, teve suas instalações interditadas pelo Corpo de Bombeiros. Um acervo de 40 mil títulos corre o risco de perder-se. Parte dele (em torno de 3000 livros) foi alocado para doação ao público interessado. Uma reforma ocorrida não resolveu as infiltrações de goteiras e a falta de um plano de prevenção de incêndios.

A atual administração municipal que assumiu em janeiro deste ano tem encontrado dificuldades para operar o orçamento feito no ano anterior. Pelo noticiário da imprensa recebeu uma dívida de difícil cumprimento. Além de nossa colaboração pessoal às autoridades responsáveis, desejamos também oferecer exemplos que podem incentivar novas iniciativas: Porto Alegre e Pelotas, dentre outras cidades brasileiras, tem utilizado recursos do Governo Federal (Projeto Monumenta). Desse modo foram e têm sido restaurados monumentos e prédios históricos públicos e privados. Pelos últimos dados oficiais publicados as despesas com a cultura no país é de 0,3%. O Estado do Rio Grande do Sul é o 14º em investimentos, enquanto os  municípios, embora com menos recursos gastam mais, ficando em 6º lugar. Em 2011 foram gastos R$ 16 milhões, e a promessa é de R$85 milhões em 2014. Porto Alegre gastou R$48 milhões e promete R$80 milhões para 2014.

Em boa hora, os responsáveis pela Casa do Imigrante, a presidente Infrid Marxen e o diretor Márcio Linck, do Museu Histórico, acompanhados pela arquiteta responsável Hannelore Tessmer, vistoriaram a casa, com a arquiteta Alice Cardoso, do Instituto do  Patrimônio Histórico e Artístico do Estado que tombou a casa como patrimônio histórico do Estado.

As pessoas interessadas em colaborar com a Casa do Imigrante podem telefonar para (51) 3592.4557. Para a Biblioteca, ligar com a Prefeitura Municipal de São Leopoldo

O HÁBITO DA LEITURA

Se decidirmos falar a respeito de hábito de leitura chegaremos a uma triste conclusão no que se refere aos brasileiros. Segundo os últimos dados estatísticos, nosso País está entre os piores classificados neste assunto.

 As causas dessa lamentável posição é de ordem histórica e cultural: A América dominada pelos espanhóis criou em 1551 a Universidade Nacional de São Marcos no Peru, e a Universidade Autônoma do México no mesmo ano. No Brasil, sob domínio português, somente em 1911 criou-se a primeira universidade (São Paulo) e a Federal do Paraná(1912). O Colégio dos Jesuítas da Bahia, de fins do século XVII seguia o Estatuto da Universidade de Évora, sem reconhecimento dos colonizadores portugueses. O primeiro jornal impresso no Brasil em 1808 foi a Gazeta. Em 1ºde julho de 1808 Hipólito José da Costa, exilado em Londres publicou O Correio Braziliense que era trazido ao Brasil de navio, clandestinamente. A primeira Revista foi impressa na Bahia em 1812 – “As Variedades ou Ensaios de Literatura”. A Revista do Instituto Histórico e Geográfico(de 1839) é uma das raras publicações que subsistem até hoje por tanto tempo.

A família, a escola e a sociedade, cada uma em sua área de competência tem a responsabilidade de incentivar a leitura de jornais, livros e revistas às crianças, jovens e adultos. Recordo de meu tempo de garoto que meu pai, além da assinatura de dois jornais, sempre que retornava de viagens, trazia livretos para pintar ou preencher espaços, livros e revistas infantis. Para meus irmãos e para mim eram os melhores presentes. Até hoje cada um de nós possui uma biblioteca em casa.

No início dos anos sessenta conheci em Novo Hamburgo uma professora da Escola Estadual João Ribeiro, no bairro Canudos. Ela, mais tarde passou a lecionar na Escola Estadual 25 de Julho e seu Anexo. Desde o início de sua carreira desenvolvia atividades práticas com os alunos. Uma delas era a leitura do jornal em sala de aula. Organizavam grupos de debates, recortes de notícias consideradas mais importantes e redação de textos sobre os temas dos jornais. A professora incentivava a leitura, a escrita, oratória,  desinibição, fraternidade e participação social das crianças e jovens.

No âmbito da sociedade cabe salientar o Programa de Leitura de Jornais em Sala de Aula, patrocinado pelo Grupo Editorial Sinos com apoio de Universidades, Secretarias Municipais de Educação, direção e professores de Escolas do Estado e municípios. Esse programa exemplar tem servido de modelo para vários outros no Estado.