terça-feira, novembro 14, 2006

Atelier Livre e o Sentido da Criatividade

Em crônica anterior tive a oportunidade de dar algumas pinceladas a respeito da estrutura e funcionamento do Atelier Livre Municipal. Agora retorno ao mesmo para constatar a aplicação prática da sua filosofia e encontrar o mais vivo e agradável calor humano. Volto a afirmar que aquí é uma Casa das Artes para Todos. O apoio comunitário é representado pela Associação Pró Atelier Livre, presidida por André Inácio Schmitt e Ana Alice Bender Gaertner, vice-presidente. Desde a chegada na portaria, encontro a atenção dos funcionários, na recepção, secretaria e serviços auxiliares. Os antigos e desconfortáveis elevadores são esquecidos, quando vejo as paredes dos corredores do Atelier, cobertas de belos quadros coloridos. São obras de arte dos alunos que circulam também em exposições públicas externas. Acompanhado pela diretora, Márcia Willers Deves, sou recebido amavelmente nas salas de desenho, pintura e dança, onde alunas e alunos parecem representar em movimento, figuras conhecidas dos quadros de pintores impressionistas.
Um ambiente alegre, disciplinado e de respeito coletivo, permite o debate sobre os programas estabelecidos, gerando a integração e liberdade para criar.
Isso faz lembrar-me de Ingrid Olbricht e Ursula Baumgardt,em seu “Um Caminho para Começar de Novo”, confirmando o êxito da orientação do Atelier: - ..”.Para ser criativo, o homem precisa de uma atmosfera encorajadora...A atmosfera que possibilita o nascimento de um processo criativo é uma atmosfera de liberdade e de segurança... Um ponto importante do princípio da criatividade é que ele não impõe, mas estimula e possibilita que cada pessoa atue de modo correspondente aos seus talentos...”
- “O ser criativo se dispõe muito mais a aceitar novas situações, pois tem a urgência de estar em contato com o mundo à sua volta e de participar dele.”
-“Em nossas vidas, a criatividade nos dá força para estar em contato com o mundo e reagir, perguntar, trabalhar e nos expressar - em suma, dá-nos a prova de que existimos e estamos vivos, de que estamos aqui.”
Por isso, o sentido da criatividade por ser entendido da forma mais diversa, de acordo com o objetivo de cada pesquisador: para o historiador da arte ela significa um produto criativo. Para os artistas, ela significa um processo. De acordo com Olbricht & Bamgardt, -“Educadores, psicólogos e psicanalistas, interessados na previsibilidade da criatividade, voltarão seus interesses para a personalidade criativa.”
Por fim, da Agenda do Atelier, selecionei textos para saber o que as pessoas dizem do processo criativo e participativo : -“Cada vez mais se torna fundamental que uma cidade preserve um espaço para a arte, garantindo o direito de criação e expressão, cultivando a sensibilidade para a arte da vida...esta é uma conquista para todos nós que acreditamos na liberdade dos homens, que acreditamos na beleza da vida.”( Maristela Guasselli, Secretária de Educação e Desporto), mantenedora do Atelier.
-“É o local onde me realizei como pessoa e profissional, através das trocas de experiências com meus alunos”.( Janice Corrêa da Silva, professora).
-“Lugar mágico de aprendizado e convívio, onde aflora o melhor do ser humano”. Através da dança, da música...”( Aurea Juliana Feijó, professora).
-“Um lugar onde as artes se encontram. Onde há troca, amor, fé e paixão pelo trabalho”. ( Luciana Maria Strack, professora).
-“Lugar de sonhar, realizar, cantar, aprender, dançar, pintar, amar, viver. Eu posso tudo,basta querer. Esse é o meu, o seu, o nosso Atelier.” ( Issur Israel Koch, professor).

Profissões e Preconceitos

Crianças, jovens e adultos deliciaram-se,uma ou mais vezes, assistindo os filmes de Walt Disney. Desses, um que chama nossa atenção é “Alice no país
Das Maravilhas”, baseado no livro homônimo de Lewis Carrol. Num dos episódios do filme aparece o “chapeleiro maluco”. A origem dessa maluquice estaria relacionada com os produtos químicos, utilizados antigamente pelos chapeleiros, para o tratamento de peles e outros materiais para a confecção dos chapéus.
Esse tratamento químico, feito sem os devidos cuidados na época, poderia trazer malefícios, disturbios mentais a esses profissionais. Daí a expressão inglesa “as mad as a hatter” ( doido como um chapeleiro ).
Claude Lévi-Strauss, antropólogo belga, nasscido em Bruxelas é conhecido dos estudiosos brasileiros, pois foi um dos grandes colaboradores da implantação da Universidade de São Paulo. Esse pesquisador e professor, analisou com muita propriedade aspectos relativos às culturas e o que chamava de “traços de personalidade associados à prática de um ofício”.
Em certa ocasião, retornando de navio, dos Estados Unidos para o Brasil, conta num de seus estudos, as conversas que mantivera durante a viagem, com um regente de orquestra francês.:
- “ Um dia ele me disse que, ao longo de sua carreira profissional, observara que o temperamento dos músicos geralmente afina com o timbre de seus instrumentos e o modo de tocá-los. Para se dar bem com a sua orquestra, o maestro deve estar atento e levar isso em conta. Assim, acrescentou, em qualquer país que estivesse, podia prever que o oboista seria fechado e suscetível, o trobonista, expansivo , bem humorado e jovial...”.
De longa data, o ser humano tem procurado verificar se existem efetivamente, as razões para esse tipo de analogia: Seria realidade ou criação de mitos que influenciariam a relação da atividade profissional com o temperamento dos indivíduos.
Tanto Belmont(1984), como Lévi-Strauss(1985), fazem referência ao antropólogo francês Sebillot, o qual, nos anos mil e oitocentos, efetuou uma interessante classificação de profissões, que tradicionalmente possuem determinados tipos de comportamento ou personalidade. As classificações poderiam ser feitas através da aparência física: os alfaiates (costureiros), por trabalharem sentados, eram imaginados doentes ou defeituosos. O mesmo poderia ser dito dos sapateiros. Os açogueiros, por trabalharem em pé, movimentando-se, às vezes, transportando grandes peças de carne às costas, fazendo constante ruído, eram considerados indivíduos que gozavam de boa saúde. O segundo aspecto analisado para classificar as profissões era relacionado à honestidade ou moralidade. Na tradição européia, por exemplo, profissionais que recebiam produtos “in natura” (matérias-primas), para processamento, eram considerados suspeitos de roubarem, não devolvendo ao proprietário as quantidades certas das matérias primas entregues para processamento. Nesse rol estavam todos os profissionais que atuavam em moinhos, tecelagem ou alfaiataria (costureiros). Os padeiros, citaDOS POR Lé-Strauss, eram acusados de utilizar produtos de baixa qualidade, muitas vezes disfarçados de boa aparência. O terceiro critério de classificação das profissões, relacionava-secom o comportamento psicológicamente afetado. Os produtos químicos utilizados pelos pintores de paredes, alegres e alcoólatras; os trabalhadores de serrarias e lenhadores, grosseiros e mal-humorados; os ferreiros e forjadores, criadores de peças em metal, eram vaidosos; os sapateiros seriam tipos alegres; Os barbeiros e cabeleireiros, quase uma unanimidade até nossos dias: muitos seriam fofoqueiros e tagarelas.
É característica das mais variadas culturas, a criação demitos atingindo a honorabilidade de profissionais, pelo exercício de trabalhos específicos. Os artesãos, por sua especialidade, podem em alguns casos, sofrer a inveja daqueles que não possuem o dom de criar peças originais.Muitas vezes a tragédia e a comédia apresentadas pelas trupes circences, nos picadeiros e praças das vilas e cidades, aguçavam a imaginação popular, como as novelas televisivas de nossos dias, que chegam a confundir a cabeça de certas pessoas, não distinguindo o que éficção e o que é realidade.
Claude Lévi-Strauss cita o pesquisador Sébillot, elaborando de forma bem humorada, uma síntese desses mitos e crenças, em torno das várias atividades
Profissionais, exercidas pelas pessoas na sociedade:
-“Se existissem cem padres que não fossem gulosos, cem alfaiates que não fossem alegres, cem sapateirosque não fosssem mentirosos, cem tecelões que não fossem ladrões, cem ferreiros que não fosssem sedentos e cem velhas que não fossem faladeiras, o rei poderia ser coroado sem medo”.

terça-feira, outubro 31, 2006

Memorial do Rio Grande do Sul

Se uma pessoa deseja saber de suas origens, seus antepassados, sua árvore genealógica, pode encontrar numa instituição pública: o Memorial do Rio Grande do Sul. Lá, crianças, jovens e adultos, são atendidos para visitas, cursos, oficinas de treinamento profissional, pesquisa ou lazer. O Memorial tem por finalidade privilegiar a cultura gaúcha, sem esquecer as influências e vinculações com as demais, tanto em âmbito nacional como internacional.
O local é privilegiado. Instalado na antiga sede dos Correios e Telégrafos, na Praça da Alfândega, entre o Museu de Artes e o Santander Cultural, no Centro de Porto Alegre. De acordo com o site
www.memorial.rs.gov.br/ “...Um centro de informação e divulgação da história, reunindo objetos, mapas, gravuras, fotos, livros, imagens iconográficas e depoimentos importantes sobre os principais fatos ocorridos no Rio Grande do Sul. O riquíssimo acervo está exposto através de uma concepção museográfica moderna aliada a novas tecnologias, permitindo assim, a integração com o público e o fácil entendimento dos conteúdos...o projeto é do arquiteto alemão Theo Wiedersphan, no início do século passado. A firma de Rodolfo Ahrons executou a obra, sendo o estilo arquitetônico marcado pela tendência às formas abarrocadas. ... Ahrons foi escolhido por seu conceito e representar a comunidade alemã, que vinha se constituindo em importante segmento econômico da sociedade gaúcha. O Governo positivista julgava importante se aproximar dessa comunidade, pois ela representava um importante aliado político. A decoração do prédio ficou sob responsabilidade da oficina de esculturas de João Vicente Friederichs.” Cedido pelo Governo Federal, o prédio foi recuperado, as fachadas receberam tratamento especial e internamente, suas instalações foram adaptadas às novas funções, como a climatização para os cuidados com os documentos do Arquivo Histórico do Estado. Uma agência Filatélica e um Museu Postal, mantém uma vinculação com as funções originais do prédio. Desde 2001, temos um local destinado à memória cultural do Estado, digno de sua preservação e manutenção. Projetos de interesse público têm sido desenvolvidos com universidades e entidades públicas ou privadas, visando atender o maior número de pessoas. Experiências bem sucedidas no âmbito regional tem sido patrocinadas em convênios da Secretaria Estadual da Cultura, através do Memorial, com a Secretaria de Educação. Desse modo, um número expressivo de estudantes tem o benefício de importantes informações sobre o resgate cultural do Estado. As ações atualmente desenvolvidas para a preservação e conservação do patrimônio cultural, são documentadas pelos relatórios anuais. Temos os Cadernos de História, publicados em linguagem acessível a todos, no máximo 40 páginas.Destacamos alguns que chamaram nossa atenção: “Os Maragatos e o Partido Federalista” de Sérgio da Costa Franco; A pesquisadora tradicionalista Elma Sant´Ana, nos oferece de forma didática a passagem dos revolucionários José e Anita Garibaldi; O Prof.Voltaire Schilling nos oferece um resumo do pensamento existencialista de Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir.A missão cultural e sócio-educativa do Memorial se mantém viva graças aos esforços de seus administradores, conselheiros, pesquisadores, funcionários, voluntários, e principalmente, à iniciativa de um grupo de empresas e bancos que tornaram possível essa realidade. Do poder público, a cultura continua sendo a filha mais pobre.

sábado, agosto 12, 2006

Ação para a Cultura e Turismo

Elaborar uma Política Pública Cultural para o município, tomando como base o sentido amplo da cultura.
Assim começa o texto do plano de trabalho da ACART-Associação Cultural dos Amigos das Artes. Fui convidado a participar da análise do mesmo, e fiquei duplamente satisfeito. A autora do documento básico, Luíza Leane Vitório, e a presidenta da ACART, Ione Rocha Jaeger, foram líderes estudantís, enquanto eu era diretor acadêmico. Naqueles tempos, não vou negar que elas, com outros colegas de diretório acadêmico, deram-me um bocado de trabalho, no bom sentido, é claro. Sempre tinham sugestões, propostas ou protestos. Penso que essa liderança e espírito crítico, desenvolvidos na universidade, colhem frutos nos dias atuais.
Um exemplo prático é essa proposta de estratégia de ação que elas apresentam à Câmara de vereadores, à comunidade, aos Conselhos Municipais de Cultura e Turismo e à própria Secretaria. Do projeto apresentado, destacamos alguns objetivos: Geração de empregos e renda aliada à cultura, à produção, difusão e valorização do patrimônio e fomento ao turismo; incentivar artistas e fazedores de arte; agregar turismo comercial com o turismo cultural e gastronômico; combater a violência e a discriminação social, através de projetos de inclusão social(cursos para desempregados).
Para alcançar essses e outros objetivos são necessárias ações preliminares de motivação e convencimento dos poderes públicos, empresas, entidades sociais e educacionais e meios de comunicação. É o que as autoras denominam de “União de todos em prol de uma causa comum”. Uma sondagem e diagnóstico poderão oferecer dados para a conceituação e análise da capacitação de Novo Hamburgo para constituir-se num pólo cultural e turístico. Serão elaborados um mapeamento da infra-estrutura turística, inventário dos bens culturais, recursos humanos e institucionais existentes no município. Isso permitirá o fortalecimento e autonomia da SECULT; busca de recursos externos (leis de incentivo, investidores nacionais e estrangeiros). Novo Hamburgo terá uma indústria turística não poluidora, com maior número de empregos, e espaços públicos ociosos serão melhor aproveitados (é o caso atual da nossa tradicional FENAC).A comunidade hamburguense, destinada a enfrentar crises econômicas periódicas, tem à sua disposição agora, essa proposta corajosa de Luiza Leane Vitório e Ione Rocha Jaeger, visando criar alternativas sócio-econômicas para o município. Esperamos que as autoridades públicas também sejam sensíveis e analisem com propriedade essa oferta de grande valor: Colaborar com o poder público na implantação de políticas que visem à melhoria da qualidade de vida da população de Novo Hamburgo.

quinta-feira, agosto 10, 2006

O enigma da SEMEC II

A Revista do Globo, de 20 de dezembro de 1963, publicava uma reportagem, com fotos de João Vieira e texto de Eduardo Pinto. O tema era “Luta da arte pela arte: Instituto de Belas Artes de Novo Hamburgo”. O subtítulo era significativo: “Quando ensinar é quase um milagre”. E o texto não deixa por menos – “ Já é uma constante no Brasil, que os empreendimentos de caráter cultural e educativo tenham que enfrentar toda uma enorme série de dificuldades e obstáculos. Tal como nos folhetins que fizeram a delícia de nossas vovós, o “mocinho” sofria as malvadezas do “vilão” para poder ao final, à custa de sofrimentos de toda a ordem, triunfar penosamente. Se, essas iniciativas de cultura conseguem também vencer, afinal, tanto melhor. Infelizmente isso nem sempre acontece”.
A seguir, o autor fala sobre a cidade – “Uma das mais importantes...verdadeiro fenômeno industrial...uma cidade limpa,com um bom centro comercial e principalmente fábricas. Fábricas por todos os lados, em qualquer “canto” onde exista um barracão. Uma colmeia de trabalho impressionante. Entre seus pontos de visita obrigatórios, figura o Instituto de Belas Artes.” Sua primeira diretora foi a professora Emilia Margareth Sauer, que anteriormente lecionava,em sua própria residência, música, piano e acordeão. O sucesso foi tão grande que em 1963, um corpo docente, integrado por 15 profissionais altamente qualificados, atendia 270 alunos, nos cursos de Artes Plásticas, Música, Ballet, Escolinhas Infantís, Decoração de Interiores e Arte Floral. A sede do Instituto, alugado pela Prefeitura Municipal, era na Avenida Primeiro de Março, 59, atualmente conhecida como SEMEC II. O pedido de reconhecimento junto ao Ministério da Educação, tramitou até julho de 1968, quando recebeu a chancela federal, a primeira Faculdade de Novo Hamburgo. Era diretora, nessa época, a professora e artista plástica Maria Beatriz Furtado Rahde. Esse demorado processo merece uma crônica específica.
Fizemos essas considerações preliminares, para tentar decifrar o enigma que vem tornando difícil alguma forma de intervenção no prédio, popularmente denominado SEMEC II, que atualmente não tem condições de habitabilidade. O local possui um significado todo especial, é afetivo. Está destinado a ser palco da resistência cultural de Novo Hamburgo. Doado por Leo Campani ao município, serviu de sede do Tiro de Guerra ( Serviço Militar ). Foi Centro de Recrutamento do Exército, Secretaria Municipal de Educação e Cultura, representação do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação. Sediou ainda o Coral e a Banda Municipal, a AHTADAC e a Escola Municipal Octávio Rosa.
A ASSOCULT- Associação para a Preservação e Conservação do Patrimônio Cultural, iniciou uma campanha visando a reforma do prédio, num custo estimado em torno de R$ 500 mil. A Prefeitura não tem previsão orçamentária para tal. No entanto, a Secretária de Planejamento, Silvia Mosmann, e o Diretor de Planejamento Urbano, Alvício Luís Klases Neto, tem oportunizado reuniões para análise da situação. O Secretário de Cultura e Turismo, Frederico Momberguer Neto, declarou-se favorável ao projeto, alertando para a necessidade de parcerias.
Em boa hora, chega a oferta do arquitetoAloisio Eduardo Daudt – registrou doação no Cartório de Registro de Títulos e Documentos ( Tabelionato Fischer): “Em favor das Artes e da Cultura, das pessoas que lutaram e lutam por ela, eu, Aloísio Eduardo Daudt, dôo a Concepçao Arquitetônica da SEMEC II ( Antigo Instituto de Belas Artes ), para acelerar o Processo Construtivo desta edificação, à Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo.”Na próxima terça-feira, apresentaremos o parecer técnico e comentários do arquiteto.

terça-feira, agosto 08, 2006

Novo Hamburgo sem memória?

- “Estão querendo acabar com o nome do Maestro Arlindo Ruggeri na Banda Municipal! O que é que vocês vão fazer?”.
O desafio foi lançado a mim e ao Vinícius Bossle, pelo professor Fernando Kieling , o Dr.Vitor Schuch e outros amigos da memória cultural da cidade. A origem dessa manifestação seria uma notícia do maestro contratado pela Banda Municipal.O mesmo teria declarado que seria efetivada uma estratégia de marketing visando divulgar e tornar mais conhecida essa atividade musical. Para tanto estaria prevista, a mudança da denominação de Banda Municipal Arlindo Ruggeri, retirando-se inclusive, o nome do maestro. Por intermédio do sobrinho Giovani Ruggeri, reencontramo-nos com a professora Rosa Maria Venturini que relatou-nos o seguinte: “ Sou neta do maestro e levei um choque com a notícia. Quando tinha dez anos de idade, participei da cerimônia solene de promulgação da Lei que denominava Arlindo Ruggeri à Banda Municipal.Temos a foto de quando o prefeito Miguel Schmitz entregava a mim os documentos, sob os olhares encantados de minha mãe Ruth Esmeralda, minhas irmãs, tios, sobrinhos, os músicos, e convidados.”
Para melhor conhecimento do público em geral, acreditamos que é interessante relatar alguns aspectos da vida do maestro Arlindo Ruggeri: nascido em Novo Hamburgo, aos19 de julho de 1906. Era casado com Maria Oliveira Pinto Ruggeri. Músico profissional, era um exímio instrumentista ao piano, nas marimbas, pistão, violino e violão. Sua orquestra era a alegria dos Clubes Sociais e no tradicional Hotel Sperb de Tramandaí, abrillhantava os jantares, festas e bailes dos veranistas. Nas sessões de cinema do antigo cine Guaraní, fazia a trilha musical que acompanhava os filmes mudos. Sua música animava os bailes de carnaval, participava dos blocos de grupos organizados na sociedade local, como o União Juvenil. Com a Banda Municipal realizou centenas de eventos públicos e beneficentes, shows e apresentações em praças, escolas, clubes e cerimônias oficiais do município de Novo Hamburgo, e a convite, em outras localidades.
Foi nomeado primeiro maestro, com a criação da Banda Municipal pelo Decreto13, de 4 de fevereiro de 1952 e Lei municipal 14 de 5 de fevereiro do mesmo ano. Era funcionário municipal ligado ao Departamento de Educação e Ensino, no cargo de Diretor da Banda, classe PP M.2.
Sem dúvida alguma, Arlindo Ruggeri, músico instrumentista de rara competência e inspiração admirável, carnavalesco, maestro e cidadão dedicado, ofereceu sua vida à cultura hamburguense. Relatamos aquí uma síntese da biografia de um homem e um nome , que não podem ser riscados de nossa história. Felizmente, qualquer mudança na Lei terá que passar pela Prefeitura e pela Câmara Municipal de Vereadores. A APRATA é a entidade responsável pela administração da Banda Municipal. Seus dirigentes Marcos Groef e Mauro Koch, saberão gerir com sensibilidade essa delicada questão.Conhecemos o Sr.prefeito Jair Foscarini, temos certeza que não permitirá que décadas da história musical do município sejam apagadas. Em próxima crônica, pretendemos relatar o emocionante e inesquecível encontro com os descendentes do maestro.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Uma cidade exemplar

“O imigrante ao chegar na colônia Dona Isabel, no final de 1875, sonhava com uma nova vida e tinha esperanças de dias melhores. E foi assim que recebeu seu lote, derrubou a mata, buscou um lugar para construir sua casa(geralmente próximo a fontes de água), começou a semear e a produzir seu alimento. A saudade, a incerteza, a solidão, enfim o abandono...foram sentimentos que o imigrante ao olhar para a imensidão das terras que o cercava sentia. Restava olhar para o céu e sob as árvores, com a família, buscar o alento na prece. Rezar e rezar por dias melhores, pela família, pela terra cultivada e assim, ter a certeza de que tudo valera a pena.” Essa introdução de autoria das Mestras Bernardete Schiavo Caprara e Terciane Ângela Luchese, faz parte do livro “Da Colônia Dona Isabel ao Município de Bento Gonçalves”. A editora é a Fundação Casa das Artes(Autarquia Municipal), que possui um prédio moderno de 4.000 m2, com oficinas de artes, teatro, cinema, espaços para mostras e exposições. Ao lado,o Museu do Imigrante funciona em prédio centenário tombado. Por dever profissional, retornamos a Bento Gonçalves, classificada entre as seis melhores cidades do Estado, administrada pelo Bacharel Alcindo Gabrieli. Constatamos que as preces, os sacrifícios e o trabalho de nossos antepassados foram atendidos. É admirável o desenvolvimento econômico e social, a qualidade de vida de 105.000 habitantes, numa terra onde só havia “pedras e montanhas”, como diziam nossos avós. Nosso interlocutor é o Secretário de Turismo e Presidente da Fundação Casa das Artes, Economista Ivo Antonio Da Rold. Pós-graduado em economia, sua bem sucedida experiência empresarial atende ao serviço público de forma objetiva e sem meias palavras. Com ele analisamos os dados que mostram o acerto da administração pública e empresarial desse município de colonização italiana:- O Plano Diretor, elaborado em convênio com a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul está em sua fase final. Para a área rural há um programa especial,com apoio da União Européia, com uma legislação pertinente que permita o gerenciamento da expansão e desenvolvimento rural. O Plano Diretor tem por objetivos preservar e conservar o patrimônio ambiental, arquitetônico e cultural, a vocação e identidade de cada distrito; - O modelo fundiário tradicional de 24 hectares caracterizou a colonização. Agora a média é de l4, mantendo a maioria familiar;- Parque industrial, com 73% de participação é diversificado: vinícola, mobiliário, alimentos,metal-mecânico, plásticos, couros, borracha, embalagens, vestuário; - Comércio e serviços representam 8% e l9%,respectivamente, na economia do município; - Turismo de negócios é o grande destaque com feiras e exposições nacionais e internacionais: Feira Internacional de Máquinas, Expobento, Fenavinho, Movelsul, ocorrem no Parque de Eventos, todo climatizado (é o segundo do País); - Há 2.200 leitos em hotéis convencionais e pousadas urbanas e rurais; - Eventos culturais ocorrem todos os anos: feiras de livros, Bento em dança(internacional), congressos científicos, concurso internacional de vinhos, credenciado pela Organização Internacional do Vinho. Na impossibilidade de especificar todos, em 2004, Bento Gonçalves acolheu 536 eventos que movimentaram a cadeia turística, que dispõe de uma Traiding. Para concluir, a educação e ensino acionam tudo isso: 5 Instituições Universitárias (duas tecnológicas), e Cetef, Senai,Senac, Embrapa, Emater.

sábado, agosto 05, 2006

Quando o presidente caiu do trem

Encerradas as operações bélicas da guerra mundial (1914-1918), a Alemanha, esgotada de recursos, solicitou um armistício que foi uma verdadeira rendição. O tratado de Versailes colocou fim ao conflito. Os alemães o consideraram um Diktat, uma condenação. Escrevendo sobre os líderes europeus em 1914, J. Pijoan diz:- “Os diplomatas e ministros europeus se movimentavam como galos sem cabeça. Na realidade nunca haviam tido cabeça, e muito menos coração. Se entre as cabeças coroadas houvesse ao menos um monarca, e entre os políticos um verdadeiro homem de Estado, a guerra poderia ter sido evitada.” Após a guerra, a própria França dava um mau exemplo: A união de ministros e políticos do “baixo clero” da Assembléia Nacional,em janeiro de 1920, elegia presidente, um desconhecido político, Paul Deschanel. Isso ocorreu em detrimento do grande líder Clemanceau, o Iigre, o qual com Lloyd George, o Raposa, autores dos tratatos que deram fim à guerra. Na madrugada de 24 de maio de 1920, um ferroviário, na linha Paris-Marselha, perto de Montargis, a 113 quilometros de Paris, encontrou um indivíduo vestindo pijama, descalço, arranhado e machucado. O homem aproximou-se e disse: “O senhor não vai acreditar! Sei que isso pode parecer absurdo, eu sou o presidente da França”! O homem disse que havia caído do trem presidencial e pediu que o ajudasse a contatar a autoridade mais próxima. O ferroviário levou-o até um posto de guarda da ferrovia. Lá, tanto o guarda Dariot como sua mulher, ficaram estupefatos com a presença do desconhecido que dizia chamar-se Paul Deschanel, presidente da França.William Wiser, no seu Os Anos Loucos, relata a conversa: - “Madame”, entoou o visitante. Estou vendo que seu marido não acredita que eu seja o presidente. A senhora já viu algum retrato?”. A mulher reparara na aparência do cavalheiro.O pijama era de qualidade impecável; seus pés – a não ser pelos vestígios de cinza do leito da via férrea – estavam limpos e eram cor-de-rosa, com as unhas bem feitas. Se fosse maluco, era um maluco fino. –“Já vi sim,” respondeu a boa senhora, “e tenho um retrato dele aqui na lareira”. Era uma foto do presidente. O homem tinha o mesmo bigode branco e o olhar esgazeado de Paul Deschanel, mas com toda a honestidade ela foi obrigada a acrescentar: - “Sinto muito, mas o senhor não se parece muito com ele.” – “Bem é verdade que eu estou de pijama, mas isso não me impede de ser o presidente da França.”- Enquanto o marido buscava o médico e o sub-prefeito, a senhora colocou o visitante na cama, mesmo desarrumada, como se fosse uma criança lavou-lhe o rosto, as mãos, os pés e cotovelos.O médico, acompanhado de um policial, examinou-o e pelo seu estado, parecia mesmo que havia caído de um trem. Sem taxis na cidade e os raros telefones com defeito, foi passado um telegrama pedindo informações sobre um trem presidencial. Foi confirmada passagem do trem e a ordem do presidente para não ser perturbado até às 8 horas da manhã. Veio a confirmação que o presidente não estava em sua cabine no trem. De Paris, à tarde, chegavam ao local, a mulher do presidente, a equipe presidencial e o líder da Assembléia Nacional. Queixando-se de um lapso de memória, o presidente francês, foi levado em caravana de vários automóveis. Vestia um traje emprestado e os chinelos do guarda trilhos da ferrovia. A versão oficial foi de que o presidente, abrindo a mal projetada janela da cabine para tomar um ar fresco, debruçando-se demais caíra ao lado dos trilhos. A imprensa não perdoou e passou a relatar outros fatos bizarros como deixar uma reunião de trabalho e adentrar um lago. Seu criado salvou-o de morrer afogado.

sexta-feira, abril 28, 2006

O Índio é um Homem Livre!

Todos os anos, em particular no mês de abril, realizam-se comemorações alusivas aos nossos indígenas. E, durante todo ano, tenho a oportunidade de encontrar alguns de nossos índios acampados à beira das estradas. Até nas cidades temos a ocasião de vê-los, com seus artesanatos à venda, nas sinaleiras.Na praia ocorre o mesmo, são em sua maioria crianças, mulheres com bebês, todos vestidos modestamente, procurando manter sua dignidade de uma cultura tão duramente atingida pelos homens brancos.
É dever do Governo Brasileiro proteger as regiões remotas do Brasil, demarcando suas fronteiras com outros países e preservar as nações indígenas. Foi notável e altamente positiva, como vem sendo até hoje, a ação do exército. O marechal Cândido Rondon é o nome heróico, sempre lembrado.Viajou Brasil a dentro, marcando as nossas fronteiras e promovendo ações de proteção ao índio e sua cultura.
Esforços governamentais, pouco expressivos, no decorrer do tempo, verificam que muita coisa ruim aconteceu: contatos prematuros de aventureiros, grupos de caçadores, pesquisadores sem conhecimento científico, frentes de ocupação patrocinadas pelo governo sem um planejamento definido ou patrocinadas por particulares visando a instalação de serrarias ou garimpos, em sua grande maioria ilegais.
Vários parques nacionais foram criados, tentando corrigir erros passados, visando: preservar a fauna e a flora em reservas naturais intocadas e oferecer proteção às tribos indígenas, através de assistência oficial. Para tanto, a Fundação Nacional do Índio tem suas delegacias instaladas nas regiões de ocupação indígena. O Estatuto do Índio dá-lhes a condição de cidadania especial, sob a tutela do Estado Brasileiro.
O Parque Nacional do Xingu é uma reserva federal, criada pelo Governo do Brasil em l96l, com suas dimensões aumentadas em l968. De acordo com relato dos indianistas Cláudio e Orlando Villas Boas “Está situado ao norte do Estado de Mato Grosso, numa zona de transição florística entre o Planalto Central e a Amazonia. A região, toda ela plana, onde predominam as matas altas entremeadas de cerrados e campos, é cortada pelos formadores do Xingu e pelos primeiros afluentes de ambas as margens”.
Na entrevista de Orlando Villas Boas, em 10.2.1975, à revista Visão, fica registrado de forma contundente, o modo equivocado com entendemos nossos irmãos índios - donos dessas terras do Brasil: - “Se fizermos uma comparação com os índios, poderemos dizer que os civilizados são uma sociedade sofrida. O índio por sua vez, estacionou no tempo e no espaço. O mesmo arco que ele faz hoje, seus antepassados faziam há mil anos.Se eles pararam nessse sentido, evoluiram quanto ao comportamento do homem dentro da sua sociedade. O índio em sua tribo, tem um lugar estável e tranqüilo. É totalmente livre, sem precisar dar satisfações de seus atos a quem quer que seja. Toda a estabilidade tribal, toda a coesão está assentada num mundo mítico. Que diferença enorme entre as duas humanidades: uma tranqüila, onde o homem é dono de todos os seus atos; outra, uma sociedade em explosão, onde é preciso um aparato, um sistema repressivo para poder manter a ordem e a paz dentro da sociedade. Se um indivíduo der um grito no centro de São Paulo, uma rádio-patrulha poderá levá-lo preso. Se um índio der um tremendo berro no meio da aldeia, ninguém olhará para ele, nem irá perguntar por que ele gritou.
O índio é um homem livre.”

terça-feira, março 21, 2006

Alfabetizando Antônia

Em plena ditadura militar, meados dos anos sessenta, uma padre jesuíta, da Faculdade de Ciências Econômicas de São Leopoldo, propôs a realização de um programa social junto a uma comunidade operária do vale do sapateiro.Três acadêmicos de Ciências Sociais e um de Economia formavam o grupo de trabalho (Pedro, Tiago, João e Mateus). A cidade escolhida foi uma pequena gigante do vale, tendo em vista sua crescente expansão industrial, e a receptividade de um grupo de seis empresas calçadistas, que prontamente abraçaram a idéia, autorizando a elaboração do projeto inicial e mais, patrocinando todo o seu custo. Aprovado o programa, com seus vários projetos, acredito que tenha sido em 1964, partiu-se para a atividade de campo: Registro na Secretaria da Educação de uma Escola de primeiro grau, Convênio para uso noturno de uma Escola no perímetro central, inscrição de alunos adolescentes e adultos, alfabetizados ou não, convênios para atividades de extensão do ensino e assistência social. O interesse dos trabalhadores analfabetos pela escola e os demais em poder retomar seus estudos interrompidos, emocionou o idealizador, os empresários e os acadêmicos. Turmas extras tiveram que ser organizadas e as aulas extendidas até aos sábados e feriados para atender o calendário oficial. No início do ano seguinte, as tarefas de administração e docência foram distribuídas entre os novos professores. O economista cuidava da administração financeira. As avaliações periódicas dos professores traziam surpresas agradáveis e outras nem tanto.As maiores dificuldades eram relacionadas com os hábitos dos alunos: faltar às aulas:(futebol, aniversários, visitas à parentes, e outros). Pedro, o mais velho,contava das agruras passadas pelos alfabetizandos idosos, lutando assim mesmo para enfrentar as maiores dificuldades. Tiago, com sua voz de tenor agradava a gregos e troianos. Mateus fazia as cobranças dos empresários(sempre pontuais) controlava os gastos, sendo considerado, injustamente, um sovina. João, o mais jovem, era o mais emotivo, preocupando-se com seus alunos, de modo particular com a turma de alfabetização. Tinha os olhos sobre as duas alunas à sua frente, no centro da sala, sempre juntas: Gertrude, seu nome, cabelos loiros e olhos azuis,denunciavam logo a origem, era alegre e muito expansiva, superava sua dificuldade em pronunciar as palavras e as frases, tendo facilidade ao escrever. Antonia, mulata encantadora, seus olhos amendoados acompanhavam com com extrema atenção as palavras e os movimentos do mestre, ajudava sua colega de origem alemã, corrigindo-lhe a pronúncia, a expressão verbal. Antonia, por seu lado, sofria para escrever, tinha dificuldades motoras, não conseguindo acompanhar o ritmo do grupo. Começou a faltar às aulas. Num certo dia o professor decidiu manter uma conversa com ela e outros colegas com as mesmas dificuldades. Para espanto do mestre, Antonia retirou-se da aula lançando-lhe um olhar fulminante. João sentiu, naquele momento, incorporar-lhe Estevão, o personagem machadiano de “A Mão e a Luva”, e em Antonia, a Guiomar estava presente também:
“Naquela tarde, a tarde fatal,estando ambos a sós, o que era raro e difícil, disse-lhe êle que em breve ia voltar para S.Paulo, levando consigo a imagem dela,e pedindo-lhe em câmbio, que uma vez ao menos lhe escrevesse. Guiomar franziu a testa e fitou nêle o seu magnífico par de olhos castanhos, com tanta irritação e dignidade, que o pobre rapaz ficou atônito e perplexo. Imagina-se a angústia dêle diante do silêncio que reinou entre ambos por alguns segundos; o que se não imagina é a dor que o prostrou, - a dor e o espanto, - quando ela, erguendo-sedacadeira em que estava, lhe respondeu, saindo: - Esqueça-se disso.”
Felizmente, com Gertraude convencendo-a, Antonia retornou às aulas e completou o curso com brilhantismo e foi oradora da turma, para a alegria e orgulho de seu jovem mestre.
Infelizmente, no ano seguinte, os cursos foram suspensos e a Escola fechada. Motivo: a burocracia da Secretaria de Educação do Estado constatou que o programa não se enquadrava na lei do salário educação, embora a região seja tradicionalmente bem atendida, de modo qualificado, pelas redes de ensino fundamental público e privado.Se a Escola tivesse continuado não teria contribuído para diminuir os atuais índices de analfabetismo?

sexta-feira, março 17, 2006

Um Laboratório Exemplar

O Instituto Anchetano de Pesquisas é um grande laboratório. Cientistas,mestrandos pesquisadores, distribuem-se nos vários ambientes: Zooarqueologia, Análises Lito-cerâmico, Antropologia física, Botânica, Química para limpeza e acondicionamento de material.Essas atividades, somadas às pesquisas de campo no Brasil e países vizinhos, são coordenadas pelo Prof.Dr.Pedro Ignácio Schmitz, S.J. e Prof. Dra.Ana Luísa Vietti Bitencourt. Dentre os vários projetos em andamento destacamos: Arqueologia do planalto catarinense, Casas subterrâneas, Sistemas de assentamento pré-colonial, Florística e aspectos fenológicos em áreas abertas de restinga, Análise fitogeográfica no RS, Arqueologia da paisagem na pré-história brasileira, Paisagem e arqueologia no planalto do RS.
As agradáveis surpresas de quem chega pela primeira vez ao Instituto não ficam por aí. Tem mais: Um museu arqueológico e etnográfico, onde estão peças inteiras de cerâmica, arcos, flexas e outros objetos das culturas pré-colombianas; um museu capela, com móveis e objetos sacros provenientes das antigas missões jesuíticas e seminários; a Biblioteca da Província Jesuítica com 130.000 exemplares, alguns raríssimos, em latim, português e espanhol do século XVI( parte do acêrvo foi encaminhado à Unisinos); Biblioteca do Pe.Dr.Ignácio Schmitz ( especializada em Antropologia ), com 3.200 exemplares; Biblioteca do Instituto com 8.700 exemplares; Intercâmbio com 437 Instituições nacionais e internacionais; Filmoteca histórica; Um herbário com várias coleções de espécimes ( mais de 10.000 fungos, por exemplo). A coleção botânica do Pe.Dr.Aloisio Sehnen S.J., possui em torno de 90.000 exemplares.
Pela qualificação técnica e científica de sua equipe, o Instituto foi credenciado pelo MEC a manter o Mestrado em História e Estudos Ibero-Americanos, desde 1987, oferecendo bolsas da Capes e CNPq., que também apoiam parte das pesquisas de campo.Criado em 22.04.1956, no Colégio Anchieta, Porto Alegre, sendo o Pe.Luiz Gonzaga Jaeger seu primeiro diretor, foi transferido para para São Leopoldo em 1962, sendo mantido pela Sociedade Padre Antonio Vieira, através da Unisinos. Seu atual diretor é o Pe.Dr.Pedro Ignácio Schmitz, S.J.
O decido apoio da Unisinos merece destaque e caracteriza bem o estilo jesuítico de preservação dos valores históricos e científicos em alto nível.
Sem desprezar os recursos da área federal ( MEC, Ciência e Tecnologia ), pessoalmente, consideramos que mais recursos deveriam ser canalisados para entidades como o Instituto Anchietano de Pesquisas que desenvolve trabalho de renome internacional, incentiva os cientistas nacionais, motiva e transfere conhecimentos à comunidade regional e às escolas que tem atendido.
Os governos,(principalmente o federal), deveriam olhar com mais cuidado os benefícios oferecidos pelo Instituto e entidades similares, e não gastar uma fortuna em campanhas de resultados duvidosos como o referendo do desarmamento.
O Instituto que completa no próximo ano seu cinqëntenário, está localizado na antiga sede da Unisinos, no coração de SãoLeopoldo, Praça Tiradentes, 35.


Ecologia e Cultura

A visão ecológica da cultura pode ser considerada uma das mais importantes no auxílio aos seus estudiosos. Por exemplo, nos estudos da arqueologia e antropologia, está entre as mais produtivas visões da construção sistêmica entre arqueologia e antropologia, de acordo com Watson, Patty J. et allii.
A ecologia então, vem a ser definida como “a ciência das interrelações entre os organismos vivos e o seu meio ambiente ou o estudo da estrutura e funções da natureza”.
O homem faz parte desse sistema natural. Suas relações com outros organismos e seu ambiente físico ( habitat ), torna-se conhecida como ecologia humana ( Bates, 1953 ).
A maneira como ocorre a interação da maioria dos organismos, com os seus ambientes é densamente determinada por suas necessidades biológicas e suas
composições genéticas.
O ser humano vem desenvolvendo a cultura através dos tempos. As mais diversas formas de expressão cultural, são fruto da ação do homem, e vem servindo de mediadoras entre o homem e seu meio ambiente.
Assim podemos distinguir e caracterizar as mais diversas civilizações, com seus sistemas culturais: são, desse modo indentifícáveis a agricultura desenvolvida pelos Maias, nas terras baixas da mesoamérica, não subsistindo no tempo pela penúria desse novo entorno ambiental.( Estudos de Betty J.Meggers, 1954.) O modo de vida e subsistência dos esquimós, no Ártico, os aborígenes da Austrália, os boximane sul-africanos.
Exemplo negativo foram vítimas os peles vermelhas na América do Norte ( a matança indiscriminada de búfalos, lembram de Búfalo Bill?), desequilibrou todo um ambiente de vida dos nativos, causando inúmeras mortes, êxodo e extinção de nichos de cultura indígena, perfeitamente equilibrados.

Fontes:
Hardesty, Danald L., “Antropologia Ecologica”, Ediciones Bellaterra s.a.,Barcelona, 1977.
Watson, Patty J. et allii, “Explanation in Archaeology – an explicitly aproach”, Columbia University Press, N.Y., 1971.
Schmitz, Prof. Dr.Pedro Ignácio, “Antropologia Cultural”, Unisinos, S.L., 1968.